sábado, dezembro 24, 2005

Para que tudo fique na mesma.

Eu por mim deixo-me estar redondo atrás do biombo azul feito de estrelas cadentes arrependidas.
Eu por mim mantenho o que disse.
Eu por mim afasto-me dos dias elásticos criados pela simpatia da ferrugem.
Eu por mim tento subir para o meio da testa do colosso de rodes.
Eu por mim seguro-me ao tecto à espera que o chão me caia em cima.
Eu por mim ligo-me à corrente de palavras esquecidas na terceira cadeira de um consultório.
Eu por mim ralo-me com pouco.
Eu por mim engulo a língua distraidamente.
Eu por mim caso-me com um saltimbanco esquelético e às riscas.
Eu por mim pinto seja o que for preciso destruir.
Eu por mim transformo-me num estendal de roupa amarela.
Eu por mim viajo escondido no vagão das bagagens esféricas.
Eu por mim consolo-me a ver o pó debaixo de móveis com a infância infeliz.
Eu por mim leio tudo o que não me queira contar nada.
Eu por mim atiro-me ao tapete persa com os ouvidos cheios de lentilhas.
Eu por mim não quero voltar ao monte onde via outro monte.
Eu por mim vou aquecendo água para um chá de colagens polidas.
Eu por mim canso-me ao fim da tarde.
Eu por mim habito uma árvore habituada a sítios desconhecidos.
Eu por mim autopsio quem disser cio.
Eu por mim baloiço num balanço de dançarino com fome.
Eu por mim continuo.

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