Como já havia sido anunciado, eis que é lançado o novo álbum dos Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho. Como de costume, aqui fica a crítica do reviewer oficial da banda, o senhor Jacaré.
Quando os meus amigos Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho me convidaram para reviewar o seu novo trabalho Do Schoppenhauer até à Lapa ou vendo cama tripartida + colchão látex, fui tomado por um sentimento indescritível. Digamos que anda perto do “ódio”. Ódio pelo seu génio, principalmente. E também porque são uns idiotas bastante chatos.
Depois de mais um estrondoso sucesso com Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho Plays Reverse, a pergunta pairava no ar: conseguiriam os rapazes manter o nível? Não sabemos e não queremos saber. Mas este novo álbum é, citando Prado Conejo, “do caraças”.
No início deste novo trabalho couvesque, somos desde logo confrontados com a essência dos Isabelle: o roque. “Be bop a gamba”, mais uma prova da influência do rei Élves na obra isabellina, inclui uma explosão fantástica, uma mistura vocal dos elementos da banda, que agarra desde logo o fã. E já que falamos do conquistar do ouvinte, a segunda faixa (“Dissertações diletantes de uma Cinderela à beira da morte”), muito à propos, irrompe nesta opus com uma guitarrada só ao nível, tipo, de gajos que também sabem tocar guitarras. À segunda música, já não há dúvidas: Isabelle é o roque! Destaque ainda para uma bateria que acompanha a guitarra qual pança do Sancho. Gostaríamos ainda de dizer mais acerca desta faixa, mas não sabemos o que quer dizer “diletantes”.
“Auto-retrato de espaço psico-espacio-temporal em 27 minutos” (27 é o número-fetiche da banda) presenteia-nos com a dimensão lírica dos Isabelle. Nesta faixa, Abono Vox de Família aka DJ Couve (ou DJ Repollo, nos dias que correm) toma a frente do palco que é a nossa mente, debitando fantásticos sound bites, escudado magistralmente pelo controlado devaneio musical de Sumeca aka O Outro Gajo dos Wham e de Tosca Mista aka Billy Vanilli. Couve também é poesia. E avaria. Uma das qualidades mais fenomenais do trio conimbricense mais conhecido no Fundão e arredores, é a capacidade de intercalar músicas calmas e introspectivas com outras passíveis de pôr até os mortos (e, por vezes, o Mário Soares) a dançar o belo e sincero roque dos Isabelle Chase. É este o caso da quarta faixa de Schoppenhauer, de seu nome “Índio roque”, onde a modos que Lucky Luke meets tinto. Roque indeed, caros/caras/preço mais ou menos em conta leitores/as. Como já frisámos em reviews anteriores sobre esta banda, os Isabelle introduzem na sua obra, de uma forma extraordinária, o motivo popular. Na quinta faixa - “Hezzbollah joga à bola com o Mark Bolan” - é o futebol (vulgo “bola”). Aí podemos imaginar um Tosca Mista, qual Cristiano Ronaldo, estraçalhando impiedosamente as defesas contrárias, um Sumeca carregador de piano, qual Petit, fazendo do sarrafeirismo uma forma de arte moderna, e um DJ Couve, avançado frio e cínico, encostando a bola para dentro da baliza, como que zombando (utilizando o seu poderio vocal) desse pobre guarda-redes que é a indústria discográfica. É golooooooo! É golooooo do talento isabellino!
A faixa número seis recupera uma conhecida característica do universo dos Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho: a cover. Depois de versões de cantigas bonitas e famosas (falamos de hinos como “Born Couve”, “Coimbra B” ou “Mr. Tamboril Man”), desta feita é a vez dos franceses Air e do seu tema floydiano “How Does It Make You Feel?” serem consagrados no reportório-couve. Em mais um fabuloso exercício do seu wit, estes rapazes de terras do Mondego ofertam-nos um encantatório “How Does It Make You Exponor?” No final desta faixa, ouve-se uma voz melódica mas electronicamente alterada (tal como o nosso pénis) soltar um “Well, I really think you should quit eating cabbages.” Sim: comê-las não. Mas ouvi-las é uma experiência transcendental.
Mas se há pouco falávamos do motivo popular, há que dizer que os Isabelle também o sabem fazer jogar com a erudição (qualquer estudioso da obra destes músicos excepcionais sabe isso). A faixa 7, “John Rimbaud”, fá-lo com uma perfeição celestial. Ao conjugar universos tão opostos como os de John Rambo e do génio precoce da poesia francesa Arthur Rimbaud, os mais cépticos poderiam dizer que os Isabelle estariam votados ao fracasso. Mas isso porque não ouviram esta música. Ou então porque têm razão. Pouco importa: falamos de mais um momento sublime dos artistas da couve. Em seguida, volta o roque puro e duro com “Rock a bílis”, servindo como descompressão ao exigente tema anterior. Esta oitava faixa (circula já um mito que os vómitos que se ouvem pertencem ao reviewer deste álbum, quando da primeira vez que o ouviu) dá-nos vontade de beber litros de uma qualquer bebida mais ou menos espirituosa – porque não água benta com gasóleo agrícola – e gregoriar ao som desta portentosa canção! Note-se ainda a velada referência cultural ao meio musical conimbricense. Eu, por acaso, nunca vi rockabillys em mais nenhum sítio do país. Mas também é verdade que ainda só fui a 4 cidades diferentes em 26 anos de vida. Mas sigamos a bordo da nau Isabel!
A faixa nº 9 é, sem dúvida, o ponto alto deste CD, sendo mesmo apontada como escolha imprescindível para a banda-sonora da upcoming sequela de Steinz, filme de culto da Cova da Beira. E pouco mais se pode dizer, a não ser que uma one night standard entre Federico Garcia Lorca e uma orca, só poderia ter como fruto algo ao mesmo tempo tão atraente e aterrorizador como esta música, a atirar para o Fantômas. E já que falamos destes, debrucemo-nos agora sobre a faixa seguinte, já que também os Isabelle co(u)veraram “The Omen”, um original composto por Jerry Goldsmith. “The Ó Men” é uma faixa sinistra, à imagem da casa de banho de Abono Vox de Família, mas até tem uma letra fantástica, vá-se lá saber.
Segue-se mais um momento de descompressão. Com “Surfin’ Couve”, este ajuntamento musical reporta-nos para, à falta de melhor, Buarcos. Montamo-nos na nossa prancha-talo de surf e atacamos as ondas. Se os Beach Boys comessem couves mergulhadas em Super Bock, era este o tipo de músicas que teriam feito. Na faixa que se segue - “Trissominversão lógica” – temos o motivo pueril no seu melhor, mas numa vertente demencial. São, provavelmente, os fantasmas da infância a atacar os membros dos Isabelle. Soubemos por portas travessas que, por exemplo, houve um deles que manteve um tórrido romance com um peluche do Pato Donald. Mas deixemos isso para mais tarde. Nesta faixa, os músicos tocam instrumentos e desempenham funções que não as suas: Couve toca guitarra, Tosca Mista violino e Sumeca canta. Quanto à letra, foi Abono quem nos elucidou:
DJ Repollo diz:
deve ser merda de escuteiros
DJ Repollo diz:
eu nao percebo puto disso
DJ Repollo diz:
em que canal dá o benfica?
A penúltima faixa, de seu nome “Surf Tango ou a Morte de Carlos Jardel”, não se baseia só em trocadilhos farrapísticos à volta de Lobo Antunes, Super Mário Jardel e do cantor Carlos Gardel. Esta música é, e o/a caro/a leitor/a prepara-se para testemunhar um momento histórico no panorama musical mundial, o teobar de um novo estilo: o Surf Tango! Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho é vanguarda.
Como é seu apanágio, os Isabelle terminam o álbum em total apoteose, nunca descurando o simbolismo inerente à sua obra. Em “Trilogia do 11 de Setembro”, afloram-se temas civilizacionais polémicos como o ataque ao WTC, o Chile de Rodrigo Tello ou o vocalista dos The Cure. Mas vejamos a quadra final deste álbum para melhor perceber o simbolismo em Isabelle:
World Trade Centrar para a entrada da área
Ou como acordei com o cabelo à Robert Smith
Com o céu cinzento
E com os dedos a cheirar a cona.
O facto de termos destacado a última palavra de Schoppenhauer não se deve só a brejeirice da nossa parte. Muito se tem discutido acerca do simbolismo da palavra “inveja” fechar Os Lusíadas do Shô Camões. Ao usar “cona”, também os Isabelle cantam a alma lusitana, expondo meticulosamente todas as idiossincrasias da pátria de Viriato.
Isabelle é Portugal!
Isabelle é universo!
Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho, Do Schoppenhauer até à Lapa ou vendo cama tripartida + colchão látex. Talo Records International (distribuição no Fundão e arredores por Noya Produções). 2007
Depuis longtemps mon cœur
Etait à la retraite
Et ne pensait jamais
Devoir se réveiller
Mais au son de ta voix
J'ai relevé la tête
Et l'amour m'a repris
Avant que d'y penser
Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour
Comme on passe le doigt
Entre l'arbre et l'écorce
L'amour s'est infiltré
S'est glissé sous ma peau
Avec tant d'insistance
Et avec tant de force
Que je n'ai plus depuis
Ni calme ni repos
Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour
Les heures près de toi
Fuient comme des secondes
Les journées loin de toi
Ressemblent à des années
Qui donnent à mon amour
Un goût de fin du monde
Elles troublent mon corps
Autant que ma pensée
Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour
Tu vis dans la lumière
Et moi dans les coins sombres
Car tu te meurs de vivre
Et je me meurs d'amour
Je me contenterais
De caresser ton ombre
Si tu voulais m'offrir
Ton destin pour toujours
Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour
Charles Aznavour, "Isabelle"
Há 5 anos
3 comentários:
Ah, finalmente, um álbum em ficheiro único. Folgo em ver que minhas palavras não sofreram desacato. Agora era fazer o mesmo com os outros, rapazolas!
É, um destes dias.
Jacaré! Foda-se! Com estas reviews já te devemos dever pelo menos uns 27 bicos...
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